UE duplica para 1 bilhão de euros auxílio à Ucrânia

O 28º dia da guerra também foi marcado por novos bombardeios a Kiev, pelo rompimento com o Kremlin de um alto político russo e por discurso de Zelenski ao Parlamento francês. Confira o resumo dos principais fatos.

Deutsch Welle


Os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) aprovaram nesta quarta-feira (23/03) o envio de 500 milhões de euros adicionais em ajuda à Ucrânia, duplicando para 1 bilhão de euros os repasses a Kiev do Fundo Europeu para a Paz.

Capital Kiev continua sendo alvo de intensos bombardeios russos | Foto: Alex Chan Tsz Yuk/SOPA/ZUMA Press/picture alliance

O 28º dia da guerra na Ucrânia também foi marcado pela expulsão de diplomatas dos EUA de Moscou e de ucranianos de Belarus, pelo bombardeio de um shopping em Kiev, pelo rompimento com o Kremlin de um alto político russo e por discurso do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, ao Parlamento francês.

O novo pacote de ajuda aprovado pela UE ocorre às vésperas da cúpula de líderes europeus com o presidente dos EUA, Joe Biden, para discutir o conflito nesta quinta-feira, em Bruxelas.

"Os 500 milhões de euros adicionais do Fundo Europeu para a Paz são outro sinal do apoio da UE às forças armadas ucranianas para defender o seu território e a sua população", disse Josep Borrell, presidente do Parlamento Europeu.

A assistência europeia, com duração prevista de 12 meses, visa financiar o fornecimento de equipamento e de materiais de proteção pessoal, kits de primeiros socorros, combustível e plataformas militares para fornecer força letal para fins defensivos.

Também nesta quarta-feira, a Alemanha e a Suécia anunciaram que estão enviando milhares de armas antitanque adicionais para o exército ucraniano.

Expulsão de diplomatas

A Rússia decidiu expulsar um número não especificado de diplomatas dos EUA em retaliação à expulsão de 12 membros da missão diplomática russa junto à ONU.

Por sua vez, Belarus, aliada da Rússia, informou nesta quarta-feira que está expulsando a maioria dos diplomatas ucranianos que trabalham no país.

"Desde 2020, Belarus tem visto muitas ações hostis da Ucrânia visando a destruição irresponsável de relações interestatais com nosso país, contatos comerciais e laços de longa data", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores bielorusso, Anatoly Glaz.

A expulsão significa que apenas o embaixador da Ucrânia e quatro diplomatas continuarão trabalhando em Minsk, em comparação com mais de 20 pessoas atualmente na embaixada.

Aliado de Putin renuncia e rompe com o Kremlin

Anatoly Chubais, o arquiteto das reformas econômicas pós-soviéticas da Rússia, rompeu com o Kremlin e deixou o país, informou nesta quarta-feira a agência de notícias Reuters. Trata-se da primeira autoridade de mais alta posição a deixar o governo russo em razão do conflito na Ucrânia.

Uma fonte próxima a Chubais disse à agência de notícias russa TASS que o homem de 66 anos, que por vezes criticou as ações do presidente russo, Vladimir Putin, deixou o país – informação que não foi confirmada pelo Kremlin.

"Chubais renunciou de acordo com seu próprio desejo. Mas se ele saiu ou não [do país], isso é assunto pessoal dele", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à agência de notícias estatal RIA Novosti. Peskov não explicou os motivos da renúncia de Chubais, e o político não fez uma declaração pública.

Chubais é economista e atuou como chefe de gabinete do ex-presidente Boris Yeltsin, o primeiro a governar a Rússia após a dissolução da União Soviética.

Ele supervisionou as reformas liberais de livre mercado na década de 1990, após a queda da União Soviética, incluindo uma iniciativa de privatização, motivo pelo qual permaneceu altamente impopular na Rússia.

Zelenski discursa ao Parlamento francês

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, discursou nesta quarta-feira ao Parlamento francês, por videochamada, e pediu ao país que apoie a Ucrânia com armas, equipamentos e mais aviões.

Zelenski agradeceu ao presidente francês, Emmanuel Macron, por sua "verdadeira liderança" e instou as empresas francesas a deixarem o mercado russo. "Renault, Auchan, Leroy Merlin devem deixar de ser patrocinadores da máquina de guerra russa", apelou.

Horas depois, na noite desta quarta-feira, a montadora francesa Renault, que tem seu segundo maior mercado na Rússia, anunciou que está suspendendo suas atividades no país devido à invasão da Ucrânia.

Putin quer que nações "hostis" paguem em rublos pelo gás russo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira que o país rejeitará o pagamento do gás russo em moedas estrangeiras, incluindo o dólar e o euro, e cobrará os fornecimentos de países "hostis" em rublos, a moeda russa.

No começo do mês, o governo russo divulgou uma lista de países e territórios considerados "hostis", que inclui Estados Unidos, Canadá, todos os membros da UE, além de Reino Unido, Ucrânia, Montenegro, Suíça, Albânia, Andorra, Islândia, Liechtenstein, Mônaco, Noruega, San Marino, Macedônia do Norte, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Micronésia, Nova Zelândia, Singapura e Taiwan.

Novos bombardeios

Um novo bombardeio russo realizado nesta quarta-feira contra um centro comercial em Kiev deixou um morto e dois feridos, segundo informou o prefeito da capital ucraniana, Vitali Klitschko.

Pela manhã, as autoridades de Kiev relataram ataques a um centro comercial e edifícios residenciais nos distritos de Sviatohsin e Shevchenko, mas nenhuma vítima foi reportada. Também nesta quarta-feira, uma jornalista russa morreu em um bairro residencial de Kiev ao ser atingida por um bombardeio russo.

Oksana Baulina trabalhava para a agência de notícias The Insider, que confirmou sua morte. Antes, ela havia trabalhado para a rede anticorrupção do líder oposicionista russo Alexei Navalny. Um civil também morreu no ataque e outras duas pessoas ficaram feridas.

Após três semanas do bombardeio a um edifício do governo na cidade de Kharkiv, equipes de salvamento encontraram os corpos de 24 vítimas debaixo dos escombros. A informação foi relatada pelo porta-voz do departamento do Serviço de Emergência do Estado na região de Kharkiv, Yevhen Vasylenko, de acordo com a agência Ukrinform.

Também nesta quarta-feira, três pessoas morreram enquanto percorriam uma estrada minada cuja passagem tinha sido autorizada pelas forças russas, disse a comissária de Direitos Humanos do Parlamento da Ucrânia, Liudmyla Denisova, segundo a agência de notícias Ukrinform.

O incidente ocorreu em Ivanivka, ao norte de Odessa, quando os militares "permitiram que vários carros passassem por uma estrada minada, e apenas três dos seis passageiros de um dos carros sobreviveram à explosão", disse a fonte.

De acordo com Denisova, as forças russas destruíram uma estação ferroviária em Pavlograd, onde uma pessoa morreu e o trânsito ferroviário foi suspenso.

Denisova também relatou que 15 casas foram destruídas na região de Lugansk entre a noite de terça e esta quarta-feira, matando uma pessoa e deixando seis feridas.

Por outro lado, o prefeito de Kiev, informou que as forças armadas ucranianas conseguiram repelir o exército russo em várias áreas próximas à capital. "A pequena cidade de Makariv e quase toda Irpin já estão sob o controle de soldados ucranianos." Irpin faz fronteira com Kiev a leste, Makariv fica a cerca de 50 quilômetros a oeste da capital ucraniana.

Zelenski acusa forças russas de "capturar" refugiados de Mariupol

Zelenski acusou forças russas de "capturar" refugiados que tentam sair da cidade sitiada de Mariupol, em uma rota previamente acordada. O presidente ucraniano afirmou que cerca de 7 mil pessoas conseguiram escapar na terça-feira, mas que um grupo foi capturado enquanto viajava pela rota.

O líder ucraniano disse em uma mensagem de vídeo que cerca de 100 mil pessoas permanecem na cidade, "sem comida, sem água, sem remédios e sob constante bombardeio".

A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, disse que nove corredores humanitários estavam acordados para esta quarta-feira, inclusive um para Mariupol.

Scholz e Putin discutem negociações de paz

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, conversou com o presidente russo, Vladimir Putin, nesta quarta-feira, sobre a invasão da Ucrânia e as negociações de paz em andamento entre os dois lados, informou o Kremlin.

Enquanto isso, o porta-voz de Scholz, Steffen Hebestreit, disse que o chanceler federal alemão advertiu Putin contra o uso de agentes de guerra química ou biológica na Ucrânia.

Dirigindo-se ao parlamento alemão no início do dia, Scholz disse que o líder russo está destruindo o próprio país.

"Putin precisa ouvir a verdade sobre a guerra na Ucrânia. E esta verdade é a seguinte: a guerra está destruindo a Ucrânia. Mas, com a guerra, Putin também está destruindo o futuro da Rússia", disse Scholz durante debate no Bundestag sobre o orçamento federal alemão. "As armas precisam silenciar imediatamente."

Otan estima até 15 mil russos mortos na Ucrânia

A Otan estima que entre 7 mil e 15 mil soldados russos tenham morrido na invasão à Ucrânia. A estimativa é baseada em informações ucranianas, publicações russas e dados de código aberto.

A Rússia não atualiza os números oficiais de baixas desde 2 de março, quando disse que 498 militares haviam sido mortos e 1.597, feridos. A Ucrânia alega que cerca de 15.600 soldados russos já morreram.

Os países da Otan concordaram com "grandes aumentos" nas tropas estacionadas na parte leste da Aliança Atlântica, com o envio de quatro novos grupos para Bulgária, Romênia, Hungria e Eslováquia, disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

Os líderes da Otan se reúnem em Bruxelas nesta quinta-feira para discutir a invasão russa na Ucrânia e o caminho que a Aliança Atlântica deve seguir.

Afirmando que a Otan tem a responsabilidade de garantir que a guerra não se estenda além da Ucrânia, Stoltenberg também alertou Moscou contra o uso de armas de destruição em massa.

"Qualquer uso de armas químicas mudaria totalmente a natureza do conflito, seria uma violação flagrante do direito internacional e teria consequências de longo alcance", disse Stoltenberg.

OMS sem acesso a muitas partes da Ucrânia

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que não tem acesso a muitas partes da Ucrânia, apesar das necessidades médicas urgentes da população. Um comboio planejado para a cidade de Mariupol, sitiada por unidades russas, não pôde partir por causa do risco de segurança, informou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

"A situação humanitária continua a se deteriorar em muitas partes do país", disse Tedros em entrevista coletiva. A situação na cidade portuária de Mariupol e em Bucha, perto de Kiev, é particularmente crítica.

Segundo o diretor-geral da OMS, os problemas de suprimentos médicos relacionados à guerra representam um risco extremo para pessoas com problemas cardíacos, câncer, diabetes, HIV e tuberculose, doenças que estão entre as principais causas de morte na Ucrânia. O conflito também aumenta o risco de doenças infecciosas como sarampo e covid-19.

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