Ocidentais se coordenam para acelerar envio de armas à Ucrânia; Alemanha fornecerá tanques

O governo alemão autorizará a entrega de tanques do tipo "Guepard" à Ucrânia, o que representa uma mudança importante na prudente política de apoio militar de Berlim a Kiev. Os detalhes dessa decisão são discutidos nesta terça-feira (26), em uma reunião convocada pelos Estados Unidos em Ramstein, no oeste da Alemanha. Cerca de 40 países aliados querem acelerar o envio de armas à Ucrânia para enfraquecer a ofensiva russa.

RFI


A reunião de ministros da Defesa ocidentais é realizada na base militar americana de Ramstein. No momento em que a Rússia tenta controlar por completo o sul e a região do Donbass, no leste da Ucrânia, esse encontro pretende "gerar capacidades adicionais para as forças ucranianas", declarou o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, na segunda-feira (25), depois de visitar Kiev. O chefe do Pentágono afirmou que a Ucrânia "pode vencer" a Rússia se receber os equipamentos adequados.

Militares ucranianos carregam mísseis antitanques fornecidos pelos Estados Unidos em caminhão estacionado no aeroporto Boryspil, de Kiev, na Ucrânia. 11/02/2022 AFP - SERGEI SUPINSKY

Os tanques alemães do tipo "Guepard" são especializados em defesa antiaérea. Os veículos procederiam dos estoques da indústria de defesa da Alemanha. Os detalhes sobre o número exato de tanques que serão fornecidos ao Exército ucraniano são tratados nesse encontro pela ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, tem sido questionado por vários países bálticos e da região central da Europa por sua recusa em enviar armas pesadas solicitadas pela Ucrânia. Os críticos veem em sua atitude uma continuidade do viés pró-russo de seu partido social-democrata SPD. A França já anunciou o envio de canhões "Caesar" com alcance de 40 km e o Reino Unido doou mísseis antiaéreos "Starstreak" e veículos blindados. Canadá e República Tcheca também estão fornecendo novas armas a Kiev.

Na Alemanha, o debate político é intenso, mesmo dentro da coalizão de governo. Verdes e liberais, integrantes da coalizão no poder, consideram insuficiente o apoio fornecido a Kiev e pediram a Scholz que autorize o envio de material ofensivo, em especial veículos blindados. O chanceler justifica sua política prudente em termos de armas pesadas como uma forma de evitar um confronto direto entre a Otan e a Rússia, uma potência nuclear.

Rússia adverte contra risco de Terceira Guerra Mundial

Enquanto a guerra na Ucrânia está gerando tensões sem precedentes entre a Rússia e o Ocidente, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, levantou a ameaça de uma extensão do conflito. "O perigo é sério, é real, não podemos subestimá-lo", disse ele, citado pela agência Interfax, um dia depois de uma visita à Ucrânia do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, e do chefe do Pentágono, Lloyd Austin.

Desde o início da guerra, há 62 dias, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pede incessantemente aos aliados ocidentais o envio de armamento mais pesado para enfrentar o poderio militar russo. E os pedidos parecem fazer efeito.

Em Moscou, secretário-geral da ONU pede cessar-fogo

Nesta terça-feira, a ONU mais que dobrou o pedido de ajuda à Ucrânia, passando para US$ 2,25 bilhões. As Nações Unidas também anunciaram hoje que o número de refugiados da guerra deve ultrapassar 8 milhões de pessoas.

Pela primeira vez desde o início do conflito, o secretário-geral da ONU, António Guterres, faz uma visita a Moscou nesta terça-feira. Guterres defende um cessar-fogo na Ucrânia "o mais rapidamente possível". "O que nos interessa é encontrar formas de criar as condições para um diálogo eficaz, criar as condições para um cessar-fogo o mais depressa possível", disse ele, antes de ser recebido pelo chefe da diplomacia russa.

Embora a situação na Ucrânia seja "complexa, com diferentes interpretações sobre o que está ocorrendo", é possível ter um "diálogo sério sobre a melhor forma de trabalhar para minimizar o sofrimento das pessoas", acrescentou Guterres. Depois da reunião com Lavrov, o secretário-geral da ONU será recebido pelo presidente Vladimir Putin.

Resistência ucraniana enfraquece estratégia russa

O ímpeto de Washington para enviar artilharia à Ucrânia aponta para uma degradação das forças russas, não só no campo de batalha atual mas também no longo prazo, segundo o secretário de Defesa dos Estados Unidos e especialistas militares. Os aliados ocidentais estão mandando dezenas de projéteis de longo alcance para ajudar a Ucrânia a deter a ofensiva russa nas regiões leste e sul da Ucrânia.

Respaldados com uma melhor defesa aérea, drones de ataque e inteligência ocidental, os aliados esperam que Kiev seja capaz de destruir uma grande parte do poder armamentício russo no confronto que se avizinha.

A Rússia "já perdeu muita capacidade militar e muitas de suas tropas, para ser franco. E queremos vê-los sem conseguir replicar rapidamente essa capacidade", afirmou Austin após sua visita a Kiev. "Queremos ver a Rússia debilitada a um nível que não possa fazer o tipo de coisas que tem feito ao invadir a Ucrânia", acrescentou.

"Guerra de desgaste"

Essa é uma mudança da abordagem inicial de Washington, quando esperava simplesmente ajudar a prevenir a tomada da capital ucraniana por parte de Moscou e a queda do governo de Zelensky. De fato, ajudadas pelos mísseis antiaéreos e antiblindagem fornecidos pelos Estados Unidos e aliados europeus, as tropas ucranianas obrigaram os militares russos a se retirarem do norte da Ucrânia em um período de seis semanas desde o início da ofensiva em 24 de fevereiro.

No entanto, Moscou agora controla faixas do leste e do sul da Ucrânia, aparentemente com a intenção de se expandir para o centro do país enviando mais tropas e equipamentos para lá. Seu plano, acreditam os especialistas, é usar bombardeios de longo alcance para repelir a maioria das forças da Ucrânia e, em seguida, enviar tropas e tanques para proteger o território.

A melhor opção da Ucrânia é responder com artilharia superior, apoiada por ataques aéreos de proteção, para destruir o poderio russo, de acordo com Mike Jacobson, civil americano especialista em artilharia de campanha. Jacobson prevê que isso levará a uma "guerra de desgaste" em que a Ucrânia, com material fornecido por aliados com maior alcance e precisão, poderia deter os russos. "Creio que a artilharia superior prejudicará a capacidade dos russos de sustentar esse combate", disse Jacobson à AFP.

Phillips O'Brien, professor de estudos estratégicos da Universidade de St. Andrews, escreveu que a guerra de artilharia que se aproxima lembrará a Primeira Guerra Mundial, onde cada lado tentou derrotar o outro com bombardeios desgastantes. O Exército da Rússia "está consideravelmente menor e sofreu maior perda de equipamentos. O Exército da Ucrânia está menor, mas prestes a ficar muito melhor armado", explicou. "A Rússia precisa mudar essa dinâmica ou perderá a guerra de desgaste", acrescentou.

Envios rápidos

Os Estados Unidos e demais aliados estão agilizando os envios para tirar vantagem do lento reagrupamento das forças russas após sua retirada do norte da Ucrânia. Já foram enviados à Ucrânia pelo menos 18 dos 90 itens de armamento que Washington prometeu nas duas últimas semanas, e mais serão despachados em breve esta semana, de acordo com um funcionário do Pentágono. Washington, além disso, está entregando cerca de 200 mil cartuchos de munição de obus e está preparando munições para a artilharia feita na Rússia que está sendo usada pelas forças ucranianas.

No entanto, nada garante que uma estratégia como essa vá permitir que a Ucrânia expulse os russos. Se Kiev prevalecer no combate de artilharia, em algum momento "obrigará (os russos) a escalar ou negociar de maneira realista", concluiu Jacobson. "A Rússia ficará frustrada, mas não derrotada."

Com informações da AFP

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