Junta militar no poder no Níger expulsa embaixador francês do país

A junta militar que tomou o poder no final de julho em Niamey decidiu na sexta-feira (25) expulsar o embaixador francês no Níger, dando ao diplomata 48 horas para partir, uma decisão imediatamente rejeitada por Paris, para quem os “golpistas não têm autoridade” para esta medida.


RFI

A decisão tomada pelos militares em Niamey acontece após um mês de manifestações, decisões e declarações hostis à política francesa.

A expulsão do embaixador francês de Niamey ocorre depois de diversas tensões, em particular o não-reconhecimento dos golpistas por Paris. Na foto, manifestantes exigem a saída da França, em Niamey, em 3 de agosto de 2023. © AFP

O Ministério dos Assuntos Estrangeiros do Níger anunciou que face à "recusa do embaixador francês em Niamey em responder ao convite (...) para uma entrevista" na sexta-feira "e outras ações do governo francês contrárias aos interesses do Níger", as autoridades "decidiram retirar sua aprovação a Sylvain Itté e pedir e ele que abandonasse o território nigerino no prazo de 48 horas".

Em resposta, o Ministério dos Assuntos Estrangeiros francês afirma que "os golpistas não têm autoridade para fazer este pedido, a aprovação do embaixador emana apenas das legítimas autoridades nigerinas eleitas", as do presidente Mohamed Bazoum, deposto em 26 de julho.

A posição é partilhada por Hassoumi Massoudou, chefe da diplomacia de Bazoum, que no X (ex-Twitter) “relembre que o embaixador está acreditado junto do presidente eleito”.

Hostis à França


A decisão de expulsar o embaixador surge na sequência de uma série de declarações, decisões e manifestações hostis à França desde o golpe contra o Bazoum, ainda detido na residência presidencial com parte da sua família.

O regime militar acusa Paris, principalmente, de querer intervir militarmente no Níger para restabelecer Bazoum ao seu posto e alega que a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) seria uma organização “soldada” pela França, antiga potência colonial na região.

A Cedeao impôs pesadas sanções econômicas e financeiras ao Níger após o golpe, e ameaçou o regime militar de usar a força armada para restaurar a ordem constitucional.

A França mantém no Níger a presença de 1,5 mil militares comprometidos com o regime do presidente Bazoum para lutar contra os grupos jihadistas que há anos ameaçam este país e uma grande parte do Sahel.

Na quarta-feira (23), o presidente francês, Emmanuel Macron, apelou mais uma vez à “restauração da ordem constitucional” no Níger e à libertação do presidente Bazoum. “Este golpe é um golpe contra a democracia no Níger, contra o povo do Níger e contra a luta contra o terrorismo”, ele declarou.

Embaixada

Quatro dias depois do golpe, centenas de apoiantes dos militares que tomaram o poder se manifestaram em frente à embaixada francesa em Niamey, causando danos às instalações. Os manifestantes foram dispersados ​​com gás lacrimogêneo, e o regime acusou Paris de uso de armas, o que o governo francês negou categoricamente.

Em 3 de agosto, as novas autoridades de Niamey denunciaram uma série de acordos militares com a França, uma decisão que Paris ignorou, reconhecendo apenas Mohamed Bazoum como governante legítimo do Níger.

Organizações hostis à presença militar francesa indicaram esta semana que pretendiam manifestar-se a partir de 3 de setembro em frente à base militar francesa em Niamey para exigir a saída dos soldados.

A junta militar também acusou a França de ter violado repetidamente seu espaço aéreo fechado por decisão do regime, e de ter “libertado terroristas”, o que, para eles, constitui “um verdadeiro plano para desestabilizar seu país”. Acusações novamente negadas vigorosamente por Paris.

Rússia

Diversas manifestações de apoio à junta militar que tomaram o poder foram sempre pontuadas por slogans hostis à França e à Cedeao, sendo a Rússia - que se beneficia da hostilidade contra Paris no Sahel - elogiada e aplaudida.

O Níger militar segue os passos do Mali e de Burkina Faso, onde já não existe um embaixador francês.

Estes dois países, também liderados desde 2020 e 2022 por militares que tomaram o poder pela força e confrontados com a violência jihadista, mostraram solidariedade com os generais de Niamey, afirmando que estavam prontos para lutar ao lado do seu exército em caso de emergência.

(Com informações da AFP)

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