Brasileiros que tentam deixar Gaza chegam à fronteira com o Egito, diz integrante do grupo

Grupo chegou a Rafah, cidade no extremo sul de Gaza, de onde aguarda sinal verde da Embaixada do Brasil na Palestina para cruzar a fronteira com o Egito. Tel Aviv e Cairo negociam abrir corredor para saída de estrangeiros.


Por Luisa Belchior | g1

Os brasileiros que tentam deixar a Faixa de Gaza chegaram neste sábado (14) à fronteira entre o território e o Egito, segundo disse ao g1 uma das integrantes do grupo. O Itamaraty também confirmou o deslocamento.

Noura Bader embarca novamente no ônibus pouco antes das 14h de sábado (14), no horário local, na segunda tentativa para deixar Gaza; — Foto: Arquivo pessoal

Este é o último passo antes de que o grupo possa cruzar a fronteira e, em solo egípcio, pegar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para o Brasil.

Eles agora esperam uma complicada negociação que envolve os governos de Israel, do Egito, dos Estados Unidos e do Brasil para que consigam cruzar a fronteira e deixar definitivamente a Faixa de Gaza, que, além de alvo de intensos bombardeios, está sem água, sem energia e quase sem comida, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

O Itamaraty afirmou que os brasileiros foram colocados em uma casa em Rafah enquanto aguardam para cruzar a fronteira.

O deslocamento aconteceu também por conta de relatos de ameaça de bombardeio em Khan Yunes, a cidade também no sul para onde os brasileiros haviam sido levados inicialmente na manhã deste sábado.

Neste sábado, o governo dos Estados Unidos disse também estar "encorajando seus cidadãos para se aproximarem da fronteira" em Rafah, onde os brasileiros estão, assim como milhares de moradores de Gaza.

Rafah é a cidade fronteiriça, dividida entre a Faixa de Gaza e Egito. É lá onde fica o posto de controle para cruzar a fronteira. Mas o local é raramente aberto à passagem de moradores de Gaza, com exceção de casos como emergências de saúde, previamente autorizados.

Depois do início da guerra entre Hamas e Israel, o governo egípcio manteve essa fronteira fechada, sob temor de uma migração em massa.

Mas, diante de apelos da ONU e da comunidade internacional, incluindo o Brasil, Israel e Egito começaram a negociar uma abertura temporária, intermediados pelos Estados Unidos.

Segundo disseram integrantes das negociações entre Egito, Israel e Estados Unidos à agência de notícias Associated Press e à rede de TV Al-Jazeera, as partes chegaram a um acordo para abrir a fronteira.

A rede CNN Internacional afirmou que fontes do Ministério da Defesa de Israel autorizaram a passagem entre Gaza e Rafah, no Egito, mas não especificaram quando a fronteira seria aberta.

Apenas cidadãos estrangeiros poderão passar por esse corredor, segundo o acordo. Neste sábado, o Hamas, que governa a Faixa de Gaza - além das atividades terroristas, o grupo também tem um braço político -, disse que proibiu cidadãos palestinos a migrarem para o Egito.

A fuga dos brasileiros

Os brasileiros que tentam sair de Gaza estavam havia dias em um abrigo no norte do território.

Mas, na quinta-feira (12), a Embaixada começou a correr contra o tempo para retirá-los de lá, depois de o governo de Israel dar um prazo de até 24 horas para que todos os moradores da região norte de Gaza que deixassem a área - o aviso gerou temores de uma incursão do Exército israelense por terra, o que, segundo a ONU, terá "consequências humanitárias catastróficas", dada a alta densidade demográfica de Gaza.

O prazo foi estendido e terminou na manhã deste sábado, pouco depois de os brasileiros conseguirem enfim deixar o local em um ônibus fretado pela Embaixada do Brasil na Palestina.

O grupo de 19 brasileiros - entre eles bebês e crianças - foi primeiro levado até a cidade de Khan Younes porque a Embaixada avaliou que seria uma rota mais segura do que a estrada até Rafah.

Uma vez dentro do Egito, os brasileiros serão levados em outro ônibus fretado pelo Itamaraty até um aeroporto próximo, onde um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) os transportará de volta ao Brasil.

Trajeto bombardeado

O trajeto entre o abrigo de onde o grupo saiu, no norte de Gaza, é de apenas 25 quilômetros - em tempos normais, duraria cerca de 30 minutos. Mas a previsão era de que a viagem poderia durar até duas horas caso houvesse bombardeios.

Nesta madrugada, um ataque com mísseis atingiu um comboio de civis que fazia o mesmo trajeto, do norte ao sul, e deixou 70 pessoas mortas, entre bebês e mulheres.

Para garantir a segurança, a Embaixada esperou a garantia, por Tel Aviv, de que não haveria bombardeios na rota. O embaixador Alessandro Candeas afirmou também que a Embaixada informou a placa e o modelo do ônibus a autoridades de Israel e ao Hamas, que governa e controla a Faixa de Gaza.

Segunda tentativa

Mais cedo, os brasileiros chegaram a colocar bagagens no porta-malas do ônibus, mas, por conta de informações sobre novos bombardeios de Israel no trajeto, tiveram de voltar ao abrigo onde estavam.

Os ônibus para transporta-los chegaram durante a noite de sexta-feira (13), mas embaixada brasileira na Palestina considerou que era muito arriscado iniciar o deslocamento, por conta da série de bombardeios realizados por Israel.

Os brasileiros estavam abrigados na escola Rosary Sisters School, ao norte de Gaza.

O avião enviado pelo governo brasileiro para resgata-los da região e trazê-los de volta ao Brasil está em Roma, na Itália, e aguarda que o grupo cruze a fronteira para voar o Egito. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou na sexta-feira (13) que o embarque será realizado em um local no Egito perto da fronteira com a Faixa de Gaza, e não mais na capital, Cairo.

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