O que é a Cisjordânia e por que Israel e palestinos entram em confronto pela região

Região fica entre Jerusalém, reivindicada por palestinos e israelenses, e a Jordânia, onde vivem mais de 3 milhões de habitantes


Felipe de Souza | CNN

São Paulo - Outro dos territórios motivo de disputa e guerras frequentes entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas, a Cisjordânia é a maior das áreas dos palestinos. São quase 6 mil km², aproximadamente o tamanho do Distrito Federal.

Militares israelenses fazem patrulha na Cisjordânia ocupada 3/7/2023 REUTERS/Ronen Zvulun

Não tem acesso ao Mar Mediterrâneo, mas é banhado pelas águas do Mar Morto, e é cercado de assentamentos israelenses, apesar de ter quase 86% da população palestina, conforme relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2021.

A região fica entre Jerusalém, reivindicada por palestinos e israelenses, e a Jordânia, onde vivem mais de 3 milhões de habitantes.

Por 400 anos, até 1917, a área da Cisjordânia estava sob domínio do Império Otomano como parte das províncias da Síria. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a Conferência de San Remo, em 1920, decidiu que as Potências Aliadas vitoriosas (França, Reino Unido, Estados Unidos) colocariam a área da Palestina sob responsabilidade de um Mandato Britânico.

A Resolução de San Remo, em 25 de abril de 1920, incorporou a Declaração Balfour de 1917 — declaração que é rechaçada pelo Hamas, grupo radical islâmico, em que o governo britânico diz garantir dar lar aos judeus. Essa declaração e o Artigo 22 do Pacto da Liga das Nações foram os documentos básicos para a construção do Mandato Britânico na região.

Os britânicos proclamaram Abdullah I como o emir da Transjordânia em 11 de abril de 1921, que declarou o país, hoje conhecido como Jordânia, um reino hachemita (descendente de árabes) independente em 25 de maio de 1946.

Em 1947, a região foi designada como parte de um futuro Estado árabe proposto pelo plano de divisão da Palestina feito pela ONU, como uma forma de tentar cessar a luta armada entre palestinos e israelenses. A resolução recomendava a divisão do Mandato Britânico em um Estado judeu, um Estado árabe e Jerusalém como um enclave administrado internacionalmente.

Porém, durante a Guerra Árabe-Israelense de 1948, que começou após essa tentativa de acordo, a área foi dominada pela Jordânia, enquanto Israel ocupava a área que hoje é a Faixa de Gaza.

Os Acordos de Armistício de 1949 definiram a fronteira provisória entre Israel e Jordânia. A área a oeste do Rio Jordão foi anexada à Jordânia e chamada de Cisjordânia. A anexação nunca foi formalmente reconhecida pela comunidade internacional, exceto por Reino Unido e Iraque.

O governo jordaniano durou até 1967, quando Israel tomou o território durante a Guerra dos Seis Dias, mesma época em que foram anexadas, também, a Península do Sinai, do Egito, as Colinas de Golã, da Síria, e a Faixa de Gaza.

Só que, ao contrário de Gaza, a presença e o controle de Israel no território continua desde então, com a criação dos assentamentos judeus que não são reconhecidos pela ONU. A disputa entre os dois povos é dura, com conflitos constantes.

Os acordos de Oslo entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1993, deram maior autonomia à Cisjordânia, já que foi estabelecida a Autoridade Nacional Palestina (ANP) no território. O objetivo era “preparar o terreno” para um futuro Estado palestino, assim como era a promessa em Gaza.

A continuação dos acordos de Oslo estabeleceram três áreas de responsabilidade dentro da Cisjordânia:
  • Área A, onde a ANP tem controle total dos assuntos civis e da segurança, e compreende cerca de 20% do território, e é mais povoado por palestinos;
  • Área B, onde a ANP tem total controle dos assuntos civis, mas Israel também participa do controle de segurança, em outros 20% do território;
  • Área C, onde Israel mantém todo o controle de 60% do território e está a maior parte dos colonos israelenses, e também as zonas rurais menos povoadas da Cisjordânia.

As principais cidades da Cisjordânia, tanto em população como em importância histórica e política, são Hebron, Nablus, Belém, Rafah e Ramallah.

Eleições de 2022 apenas pioraram a situação

Nas eleições israelenses de 2022, o partido do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, o Likud, de direita, só conseguiu formar maioria para governar fazendo alianças com dois partidos ultraortodoxos e três de extrema-direita, e também graças à aliança com um deputado do partido Sionismo Religioso (sionismo é a palavra dada pelos palestinos para quem é contra a criação da Palestina), Itamar Ben-Gvir, que sobe o tom ao falar dos palestinos.

Uma das exigências de Ben-Gvir para apoiar o governo foi aumentar a quantidade de assentamentos de israelenses dentro da Cisjordânia. Netanyahu anunciou ter aprovado alvarás para a construção de mais de 5 mil unidades habitacionais dentro da Cisjordânia em junho de 2023.

Militantes palestinos contrários à decisão iniciaram uma série de ataques aos colonos judeus em julho. A represália israelense foi a maior desde 2003, com um saldo de 12 mortos.

O Muro da Cisjordânia

O Muro da Cisjordânia foi construído pelo governo israelense. É uma rede de cercas com valas para veículos cercadas por uma área de exclusão média de 60 metros de largura e até 8 metros de altura de paredes de concreto. Ela está localizada principalmente na Cisjordânia, parcialmente ao longo da linha do Armistício de 1949, conhecida como “Linha Verde”, entre o território e Israel.

Aproximadamente 60% dela foi construída totalmente. Ainda há trechos em que o projeto não foi aprovado. O espaço entre a barreira e a linha verde é uma zona militar fechada conhecida como Zona de Costura, cortando 8,5% da Cisjordânia e englobando dezenas de vilas e dezenas de milhares de palestinos.

A barreira geralmente segue ao longo ou perto da Linha Verde, mas deriva em muitos lugares para incluir do lado israelense várias das áreas altamente povoadas de assentamentos judeus na Cisjordânia, como Jerusalém Oriental, Ariel, Gush Etzion e Maale Adumim.

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