Líderes da UE instados a colocar economias "em pé de guerra" nas negociações com a Ucrânia

Primeiros-ministros examinam planos para confiscar bilhões de euros em juros de ativos russos congelados e enviar o dinheiro para Kiev


Lisa O'Carroll | The Guardian

Bruxelas - Os líderes da UE devem se reunir em Bruxelas para discutir maneiras de aumentar radicalmente o apoio militar e financeiro à Ucrânia, em meio a apelos para que os Estados-membros coloquem suas economias "em pé de guerra".

O presidente do Conselho Europeu apelou à UE para que tome medidas radicais para estar pronta para a defesa Fotografia: Arnaud Andrieu/SIPA/REX/Shutterstock

Alimentada pelo que um diplomata disse ser um novo "senso de urgência e imediatismo" sobre a guerra na Ucrânia, a retórica sobre Moscou endureceu notavelmente nos últimos dias.

Na quinta-feira, os primeiros-ministros também devem examinar planos controversos para confiscar bilhões de euros em juros de ativos russos congelados e enviar a grande maioria do dinheiro para a Ucrânia.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, disse em uma carta pré-cúpula aos líderes: "Agora que estamos enfrentando a maior ameaça à segurança desde a Segunda Guerra Mundial, é hora de tomarmos medidas radicais e concretas para estarmos prontos para a defesa e colocar a economia da UE em pé de guerra".

Esta linguagem reflecte uma consciência crescente de que a UE deve intensificar a sua campanha para ajudar a Ucrânia a vencer a guerra e garantir a sua capacidade de defesa a longo prazo. Mas destina-se também a preparar o público europeu para as grandes exigências financeiras em matéria de defesa, incluindo a aquisição conjunta de armas.

Alertando que os europeus "enfrentam um momento crucial", Michel disse que a principal tarefa que os líderes da UE enfrentam é "o rápido fornecimento de ajuda militar à Ucrânia" para dar continuidade a uma iniciativa recente da República Tcheca, que conseguiu adquirir 300.000 projéteis de artilharia nos mercados externos em apenas três semanas.

Uma fonte de alto escalão disse que essas armas serão entregues "em semanas", mas que, a longo prazo, a Europa precisa desenvolver uma política de defesa. "Nos últimos cinco a 10 anos, tudo se tratou de cortar o orçamento da defesa. Todos os anos; agora isso mudou", disse a pessoa.

Na quinta-feira, os líderes discutirão a ideia de títulos de defesa, que tem sido ventilada por alguns, incluindo o presidente francês, Emmanuel Macron, como forma de financiar um aumento no investimento em defesa.

Os países vizinhos da Ucrânia são favoráveis à utilização de obrigações de defesa, enquanto os Estados frugais, incluindo os Países Baixos e a Finlândia, opõem-se à ideia de uma dívida comum da UE, que deixaria os contribuintes à espera das próximas décadas.

As alternativas – aumentar impostos ou cortar serviços públicos para financiar a defesa – são intragáveis para a maioria. Mas um diplomata levantou a possibilidade de obrigar cada país a contribuir com 2% do seu PIB nacional para a defesa da UE. Isso geraria até 80 bilhões de euros, afirmaram.

A outra grande ideia – ainda que controversa – em cima da mesa é o confisco de milhares de milhões de euros em juros sobre ativos russos, uma medida que os proponentes dizem que pode angariar 27 mil milhões de euros em lucros gerados nos próximos quatro anos para a Ucrânia.

No entanto, diplomatas dizem que as propostas ainda estão repletas de dificuldades jurídicas.

O Kremlin disse na quarta-feira que tal medida seria uma "violação sem precedentes do direito internacional".

Uma fonte disse que alguns membros do G7 já foram mais longe do que a UE e estão analisando se também poderiam usar o capital dos ativos russos, que inclui ouro, dinheiro e títulos, congelados em seus países.

A principal preocupação dos líderes é a perspectiva de tribunais internacionais ordenarem que todo o dinheiro seja devolvido à Rússia, destruindo a reputação da Europa como um porto seguro para investidores no processo.

"É uma proposta profundamente complexa, porque é absolutamente única e a primeira vez que isso é feito, com todo o tipo de implicações em termos de ramificações jurídicas, potencialmente sistémicas, em riscos financeiros, económicos", disse um diplomata.

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