Comandante da principal dissidência das Farc abandona negociações de paz

Conhecido como Iván Mordisco, principal comandante do grupo das dissidências das Farc, abandonou as negociações de paz na Colômbia, anunciou nesta terça-feira (16) o governo, que seguirá dialogando com outros líderes guerrilheiros.


France Presse

Mordisco, líder do Estado-Maior Central (EMC), "está fora da mesa (...) não sabemos onde está", disse em uma declaração à imprensa Camilo González, chefe da delegação do governo nas negociações que começaram no final de 2023.

Foto de arquivo do comandante do principal grupo dissidente das Farc, Iván Mordisco, durante reunião com comunidades locais em San Vicente del Caguán, departamento de Caqueta, Colômbia, em 16 de abril de 2023© JOAQUIN SARMIENTO

Segundo Bogotá, o grupo está dividido internamente, por isso negociará com outros líderes, embora os diálogos estejam "congelados" atualmente.

González apontou Andrey como o novo chefe da guerrilha nas discussões, uma vez que supostamente comanda mais de 50% dos 3.500 combatentes do EMC.

Com cabelos longos e sempre adornado com joias luxuosas, "Andrey" era o porta-voz da organização ilegal. No entanto, não se sabe a extensão de seu poder.

Segundo especialistas, Mordisco controla o tráfico de drogas milionário e as rotas ilegais de mineração, sobretudo na Amazônia. Ele pertencia às Farc, mas nunca aceitou o acordo de paz de 2016 e permaneceu escondido.

O futuro de ambos os lados dissidentes é agora uma incógnita. "O EMC (...) deixa de existir ou pelo menos inicia uma disputa pela marca entre as diferentes facções que estavam agrupadas sob esse guarda-chuva", explicou à AFP o especialista em conflitos armados Jorge Mantilla.

- Semanas de caos -


Os diálogos começaram a se enfraquecer no dia 17 de março, quando o presidente Gustavo Petro decretou o fim do cessar-fogo bilateral em três departamentos do sudoeste do país, após o assassinato de um líder indígena por insurgentes.

Desde então, milhares de soldados foram destacados para o departamento de Cauca, região de cultivos de drogas e onde combatentes do EMC estariam atacando povos indígenas.

A operação deixou pelo menos 10 guerrilheiros mortos. O grupo respondeu detonando carros-bomba, um deles na cidade de Cali, a terceira maior da Colômbia.

Na segunda-feira, Mordisco apareceu em um vídeo alertando o governo que o futuro das negociações dependia do início de uma nova trégua. Afirmou ainda que as comunidades indígenas se juntaram ao seu "exército revolucionário" por vontade própria.

Nas últimas semanas, Petro declarou a Mordisco que se não assinasse o acordo de paz, seria abatido assim como Pablo Escobar.

Na sexta-feira, Andrey admitiu em entrevista à revista Semana que o EMC tem "um problema de coordenação interna".

"Há um problema interno quanto às formas de ver e interpretar o momento político do país. Há uma grande divisão nisso", declarou.

Para Mantilla, "a única saída que o governo terá será negociar com quem quiser ficar à mesa" e sob uma lógica de diálogo regional ou "territorializado".

- Sem entregar armas -


Neste momento, o fim de uma negociação também não está claro.

Segundo "Calarcá", outro comandante do EMC, sua organização estabelecerá condições "imóveis" para assinar a paz, como não entregar armas ou submeter-se à Justiça especial.

"Se eu aceito que façam justiça contra mim no sentido de me acusarem de um crime por utilizar armas (...) estou negando quem sou", disse ele.

Petro é o primeiro presidente de esquerda a governar o país e está empenhado em uma solução pacífica para meio século de conflito armado. Desde que chegou ao poder em 2022, propôs a implementação de uma política de "Paz total", sob a qual abordou todos os grupos armados, embora as negociações tenham sofrido diversos reveses.

Atualmente está negociando com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional, em meio a violações das tréguas acordadas por ambos os lados que levaram ao congelamento do diálogo em distintas ocasiões.

O governo também anunciou, embora sem data prevista, negociações com a dissidente La Segunda Marquetalia, facção inimiga do EMC e liderada por Iván Márquez, ex-número dois das Farc.

Apesar dos esforços de paz do governo, a violência não diminui no país e o tráfico de drogas continua atingindo marcas históricas, segundo organizações internacionais.

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