Macron denuncia "manipulação de informação" diante de imbróglio após reunião entre França e Rússia

A França estaria disposta a "dialogar" com a Rússia sobre a guerra na Ucrânia?


RFI

A informação, divulgada por Moscou após uma reunião telefônica entre os ministros da Defesa dos dois países, foi rapidamente desmentida por Paris. O imbróglio mobilizou até mesmo a cúpula do governo francês e o presidente Emmanuel Macron resolveu se pronunciar sobre o assunto nesta quinta-feira (4).

Macron denuncia "manipulação de informação" diante de imbróglio após reunião entre França e Rússia © AFP - MOHAMMED BADRA

"Notou-se uma disposição de dialogar sobre a Ucrânia. O ponto de partida poderia ser a 'Iniciativa de Istambul pela Paz'", observou o Ministério da Defesa da Rússia após uma conversa por telefone entre os ministros Sergei Shoigu e Sébastien Lecornu na quarta-feira (3).

A conversa, embora tenha sido solicitada pela França para abordar a questão do contraterrorismo após o ataque em uma sala de espetáculos perto de Moscou em março, ganhou outra versão de Paris. "A França não aceitou o que quer que seja sobre este assunto", indicou a equipe de Lecornu sobre uma possível flexibilização de postura sobre a guerra na Ucrânia. Em comunicado, o ministro francês reiterou que "condenou, sem reserva, a guerra de agressão da Rússia" contra o país vizinho.

As tentativas de desestabilização da Rússia na França não são novas, mas se reforçaram desde que o governo francês concluiu um acordo bilateral de segurança com Kiev, no início deste ano. Moscou e Paris não realizavam um contato de alto nível desde outubro de 2022, com as relações sendo gravemente abaladas desde a invasão da Ucrânia. O governo russo viu a iniciativa francesa como uma oportunidade de suscitar dúvidas sobre uma mudança de posicionamento de Paris.

Lecornu lembrou, no entanto, que "a disponibilidade da França" dizia respeito a um "aumento de intercâmbio" com o governo russo na luta contra o terrorismo. O ministro da Defesa francês também indicou "não dispor de nenhuma informação que permita estabelecer uma relação entre esse atentado e a Ucrânia", como acusa a Rússia. Por isso, durante a conversa com Shoigu, teria pedido que Moscou "cesse toda a instrumentalização".

Visivelmente irritado com a resposta, o governo russo respondeu que a Ucrânia "não faz nada sem o aval de seus supervisores ocidentais". "Esperamos que, neste caso, os serviços secretos franceses não estejam por trás disso", reiterou o comunicado de Moscou, sugerindo uma participação da França no ataque de 22 de março reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI).

Macron reage: "é ridículo"


Nesta quinta-feira, ao participar da inauguração do centro aquático dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, o presidente Emmanuel Macron não poupou críticas à Rússia, denunciando "comentários barrocos e ameaçadores".

"É ridículo", afirmou o chefe de Estado ao ser questionado por jornalistas. "Nada disso faz sentido. Mas é uma manipulação de informação que faz parte do arsenal de guerra que é utilizado hoje pela Rússia", reiterou.

Macron confirmou que a França teve a iniciativa de solicitar a reunião com o ministro da Defesa russo, com o objetivo de transmitir informações sobre o ataque reivindicado pelo grupo Estado Islâmico. "Temos um trabalho conjunto a fazer com todos aqueles que são atingidos pelo terrorismo. Quando dispomos de informações, realizar conversas técnicas. Acho que é nossa responsabilidade", reiterou.

O presidente ainda afirmou não ter "nenhuma dúvida" que a Rússia quer atingir a organização dos Jogos Olímpicos, "inclusive em termos de informação" para mostrar que Paris não estaria pronta para o evento. "É também por isso que devemos persistir. A força, a autoconfiança e a relação com a verdade são o poder das democracias e das grandes nações", comentou.

Instrumentalização e propaganda


Outros representantes franceses também comentaram o incidente. O ex-presidente francês, François Hollande, recomendou nesta quinta-feira que o governo não mantenha "nenhum contato" com a Rússia. "Vocês viram como a Rússia instrumentaliza esse tipo de discussão e sugere até mesmo que a França poderia ter apoiado o atentado em Moscou", afirmou.

Mesmo posicionamento da parte do ex-ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, que classificou a atitude de Moscou de "corrupta e intolerável". "Estamos vendo uma manipulação absoluta e, infelizmente, uma instrumentalização do terrorismo para fins de propaganda", indicou.

Para Le Drian, a Rússia ameaça indiretamente a segurança da França e da Europa. "Estamos atravessando um período extremamente grave em que os grandes princípios de segurança, que foram gradualmente adquiridos desde o fim da última grande guerra, começam a ser questionados, advertiu o ex-ministro.

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