O nó dos caças

Enquanto Nelson Jobim curte suas férias na Europa, no Ministério da Defesa há uma caveira de burro monumental enterrada à sua espera.


Igor Gielow | Folha de S.Paulo

BRASÍLIA - Trata-se da decisão sobre a compra dos novos caças para a Força Aérea Brasileira. Na hipótese de a FAB selecionar o preferido de Jobim, o francês Dassault Rafale, o ministro passará um bom tempo explicando os motivos da escolha. Ele terá argumentos, mas o questionamento é certo. 

Se os militares forem de Gripen (Saab sueca) ou Super Hornet (Boeing americana), o abacaxi será mais espinhoso. Jobim terá de acatar algo contra o que trabalhou até aqui, que é uma parceria em todas as áreas com a França, ou então irá bater de frente com os brigadeiros e forçar a escolha pelo Rafale. 

Seja qual for o cenário, é saudável a visibilidade sobre uma disputa de no mínimo uns R$ 4 bilhões - provavelmente muito mais. 

Em qualquer lugar do mundo, compra militar é coberta por um véu de segredo. Natural: é a segurança do país em jogo. Mas mesmo isso precisa de escrutínio público, e até aqui a FAB fez um trabalho transparente nas etapas de sua seleção. 

Só que agora é a hora da política, e dos pequenos ou grandes detalhes da negociação. 

A revelação de que a Dassault pagou para uma comitiva de deputados passear em Paris e ouvir sobre as virtudes do Rafale é desses detalhes. 

Num país sério, seria um dos grandes, e os deputados teriam de se explicar. Eles não decidem nada agora, mas será o Congresso que terá de aprovar o orçamento da FAB e os prováveis créditos extraordinários para pagar a fatura a seguir. 

Mas aqui é o Brasil, "pas sérieux", como não teria dito De Gaulle. Temos de ouvir o presidente da Câmara falar em "lobby elegante e saudável". Cabe perguntar o grau de refinamento dos próximos detalhes que podem emergir. E como os afetados irão reagir.

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