Jovem com Down se alista no Exército e presta juramento à bandeira, no Pará: 'fiquei emocionado'

Gabriel Valente, 18 anos, é morador de Alenquer, oeste do estado. Ele e outros 37 jovens participaram da cerimônia de entrega dos Certificados de Dispensa de Incorporação.


Por Adonias Silva | G1 Santarém, PA

Patriotismo! Essa é a palavra que resume a força de vontade e o sentimento do jovem Gabriel Valente, de 18 anos, de Alenquer, oeste do Pará. O jovem, com Síndrome de Down, fez questão de se alistar no serviço militar, mas, por conta do excesso de contingência, foi dispensado.

Gabriel com a mãe Patrícia e um amigo, antes da cerimônia em Alenquer (Foto: Patrícia Valente/Arquivo Pessoal)
Gabriel com a mãe Patrícia e um amigo, antes da cerimônia em Alenquer (Foto: Patrícia Valente/Arquivo Pessoal)

Na sexta-feira (27), ele se apresentou e fez o juramento à bandeira, em uma cerimônia cheia de surpresas e emoção. Ninguém esperava um jovem com Down ter tanto entusiasmo e força de vontade. Em 10 anos, Gabriel é o primeiro Down a jurar à bandeira em Alenquer.

A cerimônia reuniu, ao todo, 38 jovens e marcou a entrega dos Certificados de Dispensa de Incorporação (CDI), documento que isenta os jovens que, este ano, estão completando 18 anos, das sanções legais, já que a prestação do serviço militar é obrigatória.

Gabriel ficou quase sem palavras, afinal, são muitos os motivos para comemorar. “Foi bacana. Fiquei emocionado. Estava ansioso”, declarou.

Mãe emocionada

A advogada Patrícia Valente, mãe de Gabriel, não conseguiu conter as lágrimas. Ela disse que, com 20 dias de nascido, o diagnóstico dado foi que o filho seria “incompatível com a vida”. A cardiopatia, segundo a mãe, seria limitante. Mas, a vida deu a ele outros caminhos.

“A cada conquista, a cada etapa que a gente supera, a gente se remete a esse dia. A gente tem certeza que ele não tem limite. Como mãe, eu fico imaginando o sofrimento de outras mães que não têm condições de falar, de verbalizar”, relata Patrícia.

A gente se propõe a sempre ser esse exemplo, a ser essa inspiração para outras famílias acreditarem no potencial dos seus filhos”, diz Patrícia Valente

Defensor de direitos

Gabriel lidera a Associação Amigos do Gabriel e integra o Fórum Municipal de Educação. Além de fóruns, participa de conferências e defende a implantação da política municipal da pessoa com deficiência na cidade.

O sonho dele é ser médico. Na escola, onde cursa o 7º ano do ensino fundamental, o jovem é exemplo de liderança. Foi apenas nos primeiros anos de vida que chegou a receber atendimento especializado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em Santarém.

O jovem é orgulho para a mãe. Ela diz que o filho tem uma vida social bem ativa e muito intensa. O momento delicado foi quando ele fez 18 anos e a família pensou nos procedimentos para se obter a curatela, prevista na legislação.

A curatela é o mecanismo de proteção para aqueles que, mesmo maiores de idade, não possuem capacidade de reger os atos da própria vida. A curatela é estabelecida por meio de um processo de interdição. No caso de Gabriel, não foi necessário.

“Fizemos algumas avaliações com ele, a nível de psicólogo e chegou-se a conclusão que seria uma violência a interdição a pessoa dele, considerando toda a atividade dele, toda a desenvoltura social que ele tem”, destaca Patrícia.

‘CaminhaDown’

Há três anos, a mãe deu início a “CaminhaDown” - caminhada em alusão ao Dia da Síndrome de Down, que mobiliza centenas de pessoas, todos os anos, no dia 21 de março, em Alenquer. Nos últimos dois anos, o evento teve Gabriel como líder do movimento.

Síndrome de Down

A Síndrome de Down não é uma doença e sim uma condição inerente à pessoa, que dentre outras características, causa deficiência intelectual. Pessoas com deficiência, como qualquer um, eventualmente adoecem, mas na maior parte do tempo estão saudáveis.

A legislação brasileira garante importantes direitos para a pessoa com síndrome de Down, seja para aqueles que são interditados parcialmente ou não. Seja no dia 21 de março ou no restante do ano, a voz das pessoas com síndrome de Down e das famílias ganha mais força.

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