Marinha do Brasil pode vender dois submarinos IKL-209 à Marinha do Peru

O Comando da Marinha do Brasil (MB) examina vender dois submarinos de ataque IKL-209/1400 (classe “Tupi”) à Marinha de Guerra do Peru.


Por Roberto Lopes | Poder Naval

A informação foi dada pelo próprio Comandante da Força Naval Brasileira, almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior, a companheiros da reserva e a altas patentes da ativa, na manhã da sexta-feira retrasada (12.04), durante a cerimônia comemorativa do 129º aniversário do Corpo de Engenheiros da Marinha.

Submarino Tapajó – S33

A solenidade teve lugar no cais ensolarado do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), junto ao navio porta-helicópteros Atlântico.

Compareceram, entre outros, o diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, o diretor Industrial da Força, vice-almirante (EN) Mario Ferreira Botelho, e o presidente da Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A.), contra-almirante da reserva Carlos Henrique Silva Seixas – homenageado, na oportunidade, com o diploma “Honra ao Mérito da Engenharia da Marinha”, por sua dedicação ao programa PROSUB de construção dos submarinos classe Riachuelo (Scorpène modificado ou S-BR).

As sondagens dos chefes navais peruanos acerca dos submarinos brasileiros IKL vêm se renovando há mais de um ano, e entraram agora em uma fase mais intensa e detalhista – ainda que, até o momento, a MB não tenha recebido uma solicitação formal das embarcações assinada pela Marina de Guerra del Perú (MGP).

Em 2017 os submarinos brasileiros também despertaram o interesse da Armada Argentina (ARA), mas com o desaparecimento do submarino ARA San Juan – que naufragou em novembro daquele ano, matando 44 tripulantes – os almirantes da nação vizinha arquivaram seus planos de adquirir submarinos de segunda mão.

Em Brasília, além da abordagem feita pela Marinha do Peru, o Comando da Marinha também está informado do interesse que seus IKL despertam em uma Força Naval do Sudeste Asiático que ainda não dispõe de submarinos (e está interessada em constituir uma flotilha de até cinco dessas unidades).

Os chefes navais desse país da Ásia estariam planejando uma visita oficial ao Brasil no meio do ano.

Inegociável 

Dos cinco navios classe “Tupi” IKL-209/1400 mantidos atualmente pelo Comando da Força de Submarinos na Base Almirante Castro e Silva (RJ), apenas o Tikuna – um 209 de projeto modificado pela Engenharia Naval Brasileira – parece ser inegociável.

Os que, na teoria, se encontram em situação mais favorável para serem exportados são o Timbira e o Tapajó, que aguardam a vez de serem submetidos a um Período de Manutenção Geral (PMG) nas instalações do AMRJ.

O Tamoio já se encontra em manutenção, mas o serviço deverá se estender até o primeiro semestre de 2021.

Todos os submarinos brasileiros são bem mais novos – e consideravelmente mais modernos – que os quatro IKL-209/1200 peruanos – classe “Angamos” –, os melhores submersíveis que a MGP possui.

Declarados operacionais entre 1980 e 1983, os “Angamos” vêm sendo submetidos a um ambicioso mas demorado programa de modernização, que conta com o apoio da empresa ThyssenKrupp Marine Systems (TKMS), fabricante alemã dos navios.

O trabalho inclui, entre outros serviços:
  • o corte do casco (à altura do cone de popa);
  • o reprojeto do compartimento de comando;
  • a modernização da propulsão;
  • overhaul do sistema elétrico (manutenção preventiva e corretiva) com a instalação, nos quatro navios, de 16 conversores estáticos de energia 20KVA/400 Hz e 60Hz;
  • a reforma do sistema de refrigeração; e
  • a atualização do controle de tiro.

A decisão de revitalizá-los foi tomada em 2015, e começou a ser implementada no início de 2017.

O serviço, nos quatro navios, deve durar quase sete anos, e a expectativa é de que, submetidos a essa modernização, cada um deles possa ter o seu horizonte de vida útil estendido por, no mínimo, 15 anos.

Os almirantes peruanos planejam incorporar submarinos de última geração, mas isso somente por volta do ano de 2035.

Faturamento 

O Comando da Marinha de Guerra do Peru quer os IKL brasileiros para substituir os seus dois antiquados IKL-209/1100, classe “Islay”, de 55,9 m de comprimento – 5,3 m menor que o brasileiro classe “Tupi” – e 1.285 toneladas de deslocamento (carregado em mergulho) – 155 toneladas mais leve que a classe “Tupi”.

Os Islay peruanos começaram a navegar na metade inicial da década de 1970, quase 15 anos antes de o submarino Tupi – o primeiro dos IKLs brasileiros – ser lançado ao mar pelo estaleiro alemão HDW. Eles foram reformados no período de 1983-1984, e por volta de 2022-2023 já devem estar descomissionados – o que explica a intensificação dos contatos dos almirantes peruanos com a Marinha do Brasil.

Aos convidados para a festa do Corpo de Engenheiros, o almirante Ilques pareceu bastante disposto a negociar os navios com seus colegas do Peru.

Os valores que poderiam ser pedidos pelos submarinos são mantidos em sigilo, mas um oficial da reserva que trabalha com reparos navais estimou para o Poder Naval que cada IKL-209 tem condições de ser repassado a uma outra marinha por 75-80 milhões de dólares.

Um dos temas em discussão nesse momento é o da possibilidade de os reparos e atualizações que esses navios necessitam serem realizados no AMRJ, o que, claro, aumentaria a rentabilidade do negócio.

Mas a possibilidade desse plano ter sucesso é incerta, porque a Marinha do Peru possui o seu próprio complexo de reparos navais – o SIMA Peru –, no porto de Callao, o mais importante do país.

Seja como for, a renda auferida na operação comercial deverá ser integralmente aplicada no atendimento aos próximos compromissos financeiros do PROSUB.

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