Cadete já havia passado mal

Mãe de soldado que morreu durante exercícios diz que filho teve indisposição e desmaiou



O cadete Maurício Silva Dias, de 18 anos, que morreu na sexta-feira após ter passado mal durante treinamento na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Rezende, no Sul fluminense, já havia tido uma indisposição e desmaiado no início dos exercícios, na quarta-feira, mas foi socorrido e retornou ao treinamento com autorização médica.

A informação é da mãe de Maurício, Cleuza Silva, que conversou com a reportagem por telefone, após o enterro de seu filho, realizado ontem, às 15 horas, em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul.

O cadete passou novamente mal na própria quarta-feira e foi atendido por médicos no local dos exercícios (conhecido como Campo Mega), que consistem em 17 baterias e 60 horas de treinamento sem direito a dormir.

No entanto, Maurício teve de ser internado em um hospital particular após uma parada cardíaca e problemas nos rins, segundo Cleuza. Ela contou que vê duas possíveis falhas por parte da Aman: que Maurício tenha passado mal e retornado com autorização médica, e o fato de só ter sido comunicada na sexta-feira que ele estava em coma induzido. Outros dois cadetes que também passaram mal durante o treinamento permanecem internados no Hospital Escola da Aman, com quadro estável.

Cleuza vai aguardar o resultado do laudo da autópsia e acompanhar as investigações. Segundo ela, caso seja constatado algum excesso e responsabilidade da Aman na morte de seu filho, vai reagir.

"Vou tomar providências. Não é a primeira vez. Não quero que aconteça com outras mães o que aconteceu comigo. Talvez o Maurício tenha vindo a este mundo para que isso acontecesse com ele e eu seja a pessoa que será a pedra no caminho da Aman".

A Comunicação Social do Comando Militar do Leste do Exército informou que lamenta a morte do cadete Maurício e que se solidariza com sua família. O Exército não se pronunciou a respeito das informações de Cleuza. Informou que foi instaurado um inquérito policial militar que tem prazo de 40 dias para ser concluído, com possibilidade de ser prorrogado por mais 20 dias.

Cleuza disse que contestou o atestado de óbito fornecido, informando que a causa da morte de Maurício foi classificada como "indeterminada". Segundo ela, deverá ser realizada uma autópsia para identificar o motivo do falecimento de seu filho, em cerca de uma semana. "Ele era um menino de 18 anos, era sadio. Não é que ele temia, mas tinha receio desse campo (local do treinamento), que é o mais temido entre os cadetes", disse Cleuza. Ela se referiu ao campo Mega, como é conhecido o treinamento de 17 baterias e 60 horas de exercício, sem direito a dormir, realizado para cadetes do 3º ano.

Maurício era o mais jovem de sua turma. De acordo com o jornal "A Razão", de Santa Maria, dois oficiais da Aman estão na cidade natal de Maurício para prestar assistência à família e também para apurar se pode haver alguma patologia na família do cadete que possa ter contribuído para a sua morte.

A reportagem do jornal local esteve no enterro e relatou que cinco cadetes da Aman, nascidos em Santa Maria, também estiveram na cerimônia, que teve uma salva de tiros em homenagem ao cadete falecido na sexta-feira.

Em meados de 1990, outro cadete, Márcio Lapoente da Silveira, também morreu após uma bateria de exercícios na Aman. Seu pais entraram na Justiça.

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