Hong Kong tem novo dia de protestos; Anistia Internacional denuncia tortura contra manifestantes

Hong Kong chegou a 16 fins de semana seguidos de manifestações contra o governo, em ações que vêm ficando cada vez mais violentas com o passar do tempo. Ruas em chamas, inclusive, se tornaram uma imagem comum no território autônomo da China.


Por G1

Milhares de pessoas foram às ruas neste sábado (21), no 16º fim de semana consecutivo de protestos populares em Hong Kong, em atos que foram reprimidos mais uma vez pela polícia com uso de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Manifestante usa extintor de incêndio durante protestos em Tuen Mun, Hong Kong, neste sábado (21) — Foto: Tyrone Siu/Reuters
Manifestante usa extintor de incêndio durante protestos em Tuen Mun, Hong Kong, neste sábado (21) — Foto: Tyrone Siu/Reuters

O conflito entre os manifestantes e os agentes das forças de segurança explodiu às 17h locais (6h de Brasília), depois do lançamento de um coquetel molotov e objetos por participantes de um dos protestos, ocorrido na região de Tuen Mun, nos novos territórios.

A polícia respondeu de maneira quase imediata, com gás e tiros com balas de borracha, nos arredores de um terminal rodoviário, o que provocou muita correria.

Após a resposta dos agentes das forças de segurança, alguns dos manifestantes, vestidos de roupa preta e mascarados, fizeram barricadas em várias ruas, as incendiaram e fugiram em seguida.

Nos últimos três meses, a maioria dos protestos segue o mesmo roteiro, de um ato que começa pacífico, tem atos de vandalismo e acaba com confrontos.

Hong Kong chegou a 16 fins de semana seguidos de manifestações contra o governo, em ações que vêm ficando cada vez mais violentas com o passar do tempo. Ruas em chamas, inclusive, se tornaram uma imagem comum no território autônomo da China.

Hoje, ativistas que se classificam como defensores da democracia, assim como grupos favoráveis ao governo local, realizaram diferentes manifestações em diversas partes da antiga colônia britânica.

Tuen Mun foi o palco de um dos maiores atos, com milhares de pessoas se reunindo na região. A justificativa do ato era protestar contra as mulheres que cantam e dançam de maneira provocativa em um grande parque da localidade, o que os moradores alegam ser trabalho sexual ilegal.

Apesar do argumento para a convocação da manifestação, foi nítido o sentimento contra o governo e contra a China. A polícia chegou a proibir a reunião de pessoas, mas a organização obteve autorização poucas horas antes do horário marcado.

Ao mesmo tempo em que gritavam contra "a dama", que é a forma como se referem às mulheres que dançam e cantam em praça pública, os manifestantes faziam coro contra "os comunistas", em referência ao regime da China, e um grupo queimou a bandeira do país.

A passeata veio depois de uma campanha a favor do governo, que tinha como objetivo retirar cartazes colocados nas paredes nas ruas de diferentes partes de Hong Kong, em ação conhecida como "Muro Lennon", em referência a John Lennon, inspirada por grafites feitos em um famoso muro de Praga, na República Tcheca, nos anos 80.

A campanha "Limpemos Hong Kong" foi impulsionada pelo deputado pró-Pequim Junius Ho, que se transformou em uma das figuras mais odiadas pelos manifestantes, que o acusam de estar envolvido em um ataque que teria participação da máfia chinesa, há dois meses, em Yuen Long.

No incidente de 21 de julho, que causou comoção em Hong Kong, dezenas de manifestantes vestidos de preto e outros manifestantes foram agredidos por um grande grupo organizado, com pessoas vestidas de branco, durante mais de 30 minutos, diante da ausência de policiais.

Na manhã deste sábado, pequenos grupos de pessoas foram vistos em diversos distritos, arrancando cartazes do "Muro Lennon", o que chegou a gerar reclamação de moradores e até alguns confrontos.

Por causa dos tumultos nas ruas de Tuen Mun, a estação de metrô da região chegou a ser fechada por aproximadamente duas horas, a partir das 15h (4h de Brasília).

Anistia Internacional denuncia 'tortura'

A organização Anistia Internacional (AI) acusou na sexta-feira a polícia de Hong Kong de uso excessivo da força contra os manifestantes pró-democracia e denunciou "táticas ilegais" que em alguns casos podem ser chamadas de "tortura".

Em um relatório elaborado com base em entrevistas com 20 manifestantes, alguns deles hospitalizados após sua detenção, a organização de defesa dos direitos humanos afirma que os policiais da ex-colônia britânica ultrapassam os níveis de contenção admitidos pela lei local e internacional.

"Aparentemente sedentas por represálias, as forças de segurança de Hong Kong mostram uma tendência preocupante de uso de táticas imprudentes e ilegais contra a população durante as manifestações", declarou Nicholas Bequelin, diretor da AI para o leste da Ásia.

As táticas "incluem detenções arbitrárias e represálias violentas contra as pessoas detidas, atos que em alguns casos poderiam ser qualificados como tortura".

A AI pede a criação de uma comissão de investigação independente sobre o comportamento da polícia, algo também defendido pelos manifestantes, mas rejeitado pelas autoridades.

A polícia de Hong Kong rejeitou as conclusões do relatório da Anistia e afirmou em um comunicado que seus agentes "sempre demonstram muita contenção no uso da força".

Hong Kong é cenário há várias semanas de grandes manifestações, algumas delas violentas, que pedem mais liberdade democrática.

O movimento é o maior desafio ao governo da China desde que a cidade foi devolvida pela Grã-Bretanha em 1997.

Comércio sente os efeitos

Mais de 100 dias de mobilização representaram um duro golpe na economia de Hong Kong, uma das capitais mundiais mais apreciadas para ir às compras.

Em agosto, Hong Kong registrou uma redução de 40% no número de turistas em comparação com o ano anterior, segundo o secretário de Finanças, Paul Chan.

A grande maioria dos turistas em Hong Kong procedem da China continental. As imagens de confrontos, por vezes violentos, entre os manifestantes pró-democracia e a polícia deram a volta ao mundo desde o lançamento, em junho, de um projeto de lei que facilitaria as extradições para a China, alimentada pelo temor de que Pequim ganhe mais poder na ex-colônia britânica.

Um dos bairros mais afetados desde junho é Causeway Bay, conhecido por suas diversas lojas de luxo. No fim de semana passado, os clientes testemunharam confrontos entre a polícia, que disparava gás lacrimogêneo, e manifestantes mascarados.

Chiu, de 39 anos, farmacêutico de Causeway Bay, teve uma queda de faturamento de 50%. Os estrangeiros, que representavam metade de sua clientela antes do início dos protestos, quase não frequentam mais seu comércio, explica à AFP.

"Também parece que são menos clientes locais comprando. O clima social não está bom", lamenta Chiu. Em várias ocasiões, o farmacêutico, que não quis dar seu nome completo, fechou as portas para proteger a loja das granadas lacrimogêneas.

Segundo ele, a situação é pior do que em 2014, quando a "Revolução dos Guarda-Chuvas" paralisou a cidade, um dos maiores centros financeiros do mundo, por 79 dias.

A taxa de ocupação dos hotéis diminuiu, com repercussões em cascata na atividade de lojas e restaurantes. Recentemente, muitos eventos culturais e esportivos foram cancelados, incluindo o torneio internacional de tênis feminino.

O crescimento econômico da cidade, ajustado pelas variações, recuou 0,4% no segundo trimestre. Mas essa queda teve início antes dos protestos, com a desaceleração econômica global e a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.

A agência de classificação de crédito Fitch rebaixou a dívida soberana de Hong Kong no início de setembro, considerando que a confiança internacional de Hong Kong no "sistema de governo e Estado de Direito" foi afetada.

Os avisos de Pequim, que ligaram as manifestações a atos de "quase terrorismo", contribuíram para o desaparecimento de turistas da China continental, que em junho representaram mais de 80% dos visitantes.

O número de grupos de turistas chineses diminuiu 90% nos primeiros 10 dias de setembro, em comparação com o ano passado, segundo a AFP Jessica Wan, porta-voz do Conselho de Turismo.

O aeroporto da cidade, o oitavo aeroporto internacional mais frequentado do mundo, registrou uma queda de 12,4% no número de passageiros, ou seja, cerca de 850.000 passageiros a menos.

Muitos comerciantes viram sua rotatividade profundamente afetada. Em Wan Chai, o gerente de uma loja de relógios teve que demitir metade de sua equipe. "Se você andar pelas ruas, verá que várias lojas de relógios já fecharam", disse o gerente da loja, que se chama Wong, à AFP.

Neste bairro popular, cheio de letreiros luminosos de inúmeras lojas, os comerciantes também estão preocupados. Uma vendedora de bolsas falsificadas diz que ganha cinco vezes menos do que no início do ano.

Os protestos não mostram sinais de apaziguamento, e mesmo os comerciantes que apoiam o movimento pró-democracia têm sentimentos contraditórios. "Eu apoio os jovens", diz o farmacêutico Chiu, que deixa água à sua porta para os manifestantes. "Mas também tenho que levar meus negócios adiante", acrescenta.

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