Analista explica o que é a 'zona tampão' proposta por Putin na Ucrânia e porque seria importante

Em uma coletiva de imprensa sobre o resultado das eleições de 2024, o recém-reeleito Vladimir Putin afirmou que a Rússia poderia ser forçada a criar uma "zona tampão" nos territórios atualmente controlados por Kiev.


Sputnik

O presidente Vladimir Putin disse aos jornalistas no domingo (17) que uma potencial "zona tampão" poderia ser criada para evitar que Kiev bombardeie os territórios da Rússia com armas de padrão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em sua posse.

© AP Photo / Vadim Ghirda

Mais tarde naquele dia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, explicou que a medida proposta pelo presidente seria necessária para impedir ataques contínuos de artilharia e drones de Kiev contra áreas residenciais e instalações civis da Rússia.

"Elas só podem ser protegidas criando um certo corredor, uma certa zona tampão, de modo que quaisquer meios que o inimigo possa usar para atacar estejam fora do alcance", disse Peskov aos repórteres.

"É necessário distinguir a que tipos de zonas [tampão] se referem", disse Sergei Poletaev, analista político russo, à Sputnik. "O primeiro tipo é estabelecido como resultado de um acordo de cessar-fogo. O segundo é estabelecido como resultado de ações enérgicas de uma das partes."

"No nosso caso, a segunda opção parece ser mais relevante: é quando uma das partes organiza uma operação militar para garantir uma determinada zona de segurança fora das suas fronteiras, citando o fato de uma ameaça vir de um Estado vizinho", disse o especialista.

De acordo com Poletaev, a Rússia tentou negociar uma espécie de zona tampão com outros participantes dos Quatro da Normandia no âmbito dos Acordos de Minsk de 2014 e 2015 para garantir a segurança dos civis de Donbass em meio ao bombardeio indiscriminado da Ucrânia na região.

"Isto foi formulado como a retirada de armas pesadas da linha de demarcação. No anexo aos acordos de Minsk, estas [zonas] foram até desenhadas no mapa", disse o analista.

Contudo, Kiev não cumpriu os acordos, enquanto os apoiadores ocidentais da Ucrânia admitiram mais tarde que usaram os Acordos de Minsk como uma pausa operacional para a escalada militar ucraniana.

A profundidade da zona tampão depende do tipo de armas que serão utilizadas pelos militares ucranianos, continuou Poletaev.

"Se estamos falando de canhões ou artilharia de foguetes, então são aproximadamente 40-50 quilômetros. Ou seja, os sistemas de artilharia ocidentais mais comuns usados pelos ucranianos são os obuseiros M777. Eles têm um alcance de 20 a 40 quilômetros, dependendo do tipo de projéteis que eles usam. O alcance de disparo do sofisticado projétil guiado Excalibur é de [pouco mais de] 40 quilômetros. Os sistemas Grad, incluindo versões atualizadas, ou o tcheco [RM-70] Vampir também têm um alcance de até 40 quilômetros. Essa é a profundidade [...]. Isto é, estamos falando de privar o inimigo da possibilidade de um bombardeio massivo de Belgorod [e de outras cidades fronteiriças russas]."

Ao mesmo tempo, porém, a zona tampão não impedirá o inimigo de atacar o território russo com drones e mísseis de longo alcance, observou o analista. Mais recentemente, a Ucrânia intensificou os ataques de drones contra instalações russas, enquanto uma conversa interceptada de altos oficiais alemães expôs os seus planos de usar mísseis Taurus contra instalações civis da Rússia. O míssil de cruzeiro Taurus possui um alcance de tiro de até 500 quilômetros.

A julgar pela retórica do governo de Kiev e do Ocidente coletivo, eles não estão dispostos a manter negociações sobre a cessação das hostilidades que infligem danos à população civil russa, observou Poletaev. Portanto, segundo o analista, a única solução para este dilema é "afastar a linha da frente" das fronteiras da Rússia. Os bombardeios e a incursão da Ucrânia nas regiões fronteiriças da Rússia deixam Moscou com pouca ou nenhuma outra escolha, acredita Poletaev.

O presidente russo, Putin, abordou a criação de uma zona tampão em 13 de junho de 2023, em resposta às incursões da Ucrânia, aos ataques de sabotagem e aos bombardeios do território russo.

"A possibilidade de bombardear o nosso território a partir da Ucrânia continua real", disse o presidente em uma reunião com repórteres de guerra que cobrem a operação militar especial russa. "Aqui estão várias soluções: primeiro, reforçar a eficácia da luta contrabateria [de artilharia]. Mas isto não significa que não haverá ataques com mísseis contra o nosso território. Mas se isto continuar, aparentemente teremos de considerar a questão — e eu estou dizendo isso com muito cuidado — de criar uma zona tampão no território da Ucrânia, a uma distância tão grande de onde seria impossível chegar ao nosso território."

Putin observou na época que o Kremlin precisava ver como a situação evoluiria. À medida que os ataques de sabotagem e as ações terroristas da Ucrânia contra civis russos continuam, Moscou parece redobrar a sua atenção na consideração desta opção.

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