A Odebrecht vai à guerra


Mônica Bergamo - Folha de SP 

Herdeiro de um império de 100 mil empregados que fatura R$ 38 bilhões em 18 países, Marcelo Odebrecht, presidente do grupo Odebrecht, raramente dá declarações ou entrevistas. Anteontem, ele participou de seminário sobre segurança internacional promovido pela Fiesp e pelo Ministério da Defesa. 

Para plateia de empresários e militares, afirmou que o Brasil é o "único" que pode "conciliar e catalizar" movimentos bolivarianos da América Latina com as democracias da região, "ativo do qual empresas brasileiras vão usufruir".

A Odebrecht já está usufruindo. Na Venezuela, participa de um projeto de ocupação na fronteira com a Colômbia, "certamente para evitar a invasão das Farc", diz o empresário brasileiro, que tem "forte vertente militar" e interação com as Forças Armadas de Hugo Chávez. "Nós ajudamos a levar pessoas para áreas que não tinham a presença humana. Estamos levando casa e infraestrutura para lá", disse Marcelo à coluna. Segundo ele, dificilmente uma empresa que não fosse brasileira seria tão bem recebida. A Odebrecht construirá estradas, esgoto e 11 mil casas no lugar.

Na Fiesp, ele falou das perspectivas de integração das empresas privadas com as novas estratégias militares do Brasil. A seguir, um resumo:

"Vamos ter que discutir uma perspectiva moral da guerra. Fomos uma das dez empresas escolhidas pelo Exército dos EUA para participar como apoio na guerra do Iraque. Um engenheiro nosso foi sequestrado e faleceu. Isso colocou o dilema: deveríamos estar numa guerra que não era do Brasil? E como continuaríamos a servir o cliente? Mandando só americanos [para a guerra]? São dilemas que a iniciativa privada, na medida em que nossas Forças Armadas são demandadas em outros países, viverá paradigmas que precisamos discutir."

"A gente presta muitos serviços para o Exército dos EUA. O modelo americano conduz para que o americano apenas trace as estratégias, a tática, o combate propriamente dito. Tudo o mais tende a ser subcontratado para a iniciativa privada. Quando os EUA mobilizam 30 mil homens para um local, é porque eles têm a flexibilidade de usar a iniciativa privada para atender à demanda de seus serviços e de bens."

"Neste mercado, o grande cliente será sempre a área militar. E não há como a iniciativa privada participar ativamente se não perceber isso [o plano de defesa brasileiro] como política que transcende governos."

"O Brasil reúne condições únicas para desenvolver um cluster empresarial de defesa da América do Sul. A postura diplomática do país, conciliadora, pela paz, construiu uma imagem de confiança dentro e fora da região. É um ativo que vai ajudar muito as empresas brasileiras a atuarem na área."

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem