Governo reage a cancelamento de contrato da Embraer

Itamaraty divulga, após dois dias de silêncio, comunicado em que protesta contra decisão de Força Aérea dos EUA

IURI DANTAS, BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Após dois dias de silêncio, o governo brasileiro protestou com vigor incomum contra a decisão da Força Aérea dos Estados Unidos de cancelar a compra de 20 aeronaves A-29 Super Tucano, da fabricante nacional Embraer. Em comunicado divulgado no início da noite de ontem, o governo afirmou que a decisão americana pode atrapalhar futuros negócios militares entre os dois países.

"O governo brasileiro recebeu com surpresa a notícia da suspensão do processo licitatório de compra de aviões A-29 Super Tucano pela Força Aérea dos Estados Unidos, em especial pela forma e pelo momento em que se deu", diz o primeiro dos dois parágrafos publicados pelo Itamaraty em seu site.

"Esse desdobramento não contribui para o aprofundamento das relações entre os dois países em matéria de defesa."

A linguagem diplomática sugere que, ao enterrar o contrato com a Embraer, os americanos tornaram complicada a posição da Boeing, que disputa com franceses e suecos a licitação para fornecimento de caças à Força Aérea Brasileira (FAB). O fornecedor da nova geração de caças da Aeronáutica deve ser divulgado nos próximos meses.

Procurado pela reportagem, o Itamaraty informou que a posição brasileira se resume à nota que foi divulgada. Negou, ainda, que tenha havido qualquer gestão ou pedido formal de explicações aos Estados Unidos. Ou seja: os representantes diplomáticos do País deixaram claro o protesto do governo e avisaram que Brasília "continuará a manter diálogo com as autoridades americanas sobre o assunto."

O vice-secretário de Estado dos EUA, William Burns, afirmou ontem no Rio esperar que Washington resolva, "no menor prazo possível", os problemas que levaram à suspensão do pedido de compra do governo americano de aviões da Embraer.

Burns não quis admitir que pressões eleitorais levaram Washington a decidir-se pela suspensão.

E acrescentou não acreditar que o contrato da Embraer com o governo americano influencie a decisão de compra de caças para a FAB.

Cancelamento. A licitação dos EUA foi suspensa na terça-feira por supostos "problemas na documentação", segundo a Força Aérea americana. Houve, também, forte lobby da americana Hawker Beechcraft, rival da Embraer, que alertava para a perda de empregos no país, caso a brasileira vencesse a disputa. O negócio renderia US$ 355 milhões.

Em um primeiro momento, a diplomacia brasileira acreditou que a decisão se relacionava a problemas enfrentados pelos militares americanos no Afeganistão, com a descoberta de exemplares queimados do Alcorão, o livro sagrado do Islã, em uma base militar dos EUA. Ontem, horas após a presidente Dilma Rousseff chamar de "inconsequente" a estratégia de combate à crise adotada pelos países ricos, o Itamaraty elevou o tom.

COLABOROU ROBERTO LAMEIRINHAS

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