Exército de olho na fronteira

Forças Armadas e PF deslocam homens para região que liga o Acre a Peru e Bolívia





Edson Luiz

Cerca de 700 homens do Exército, Polícia Federal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) iniciaram esta semana uma operação nas fronteiras do Acre com o Peru e a Bolívia. Soldados e agentes estão armando barreiras nas principais estradas do estado, que hoje figura entre as principais rotas do chamado tráfico formiguinha. Segundo levantamento da PF, a migração dos laboratórios de refino de cocaína para a região de Madre de Diós, no Peru, tem aumentado a entrada da droga, trazida em quantidades que variam entre 10 e 70 quilos, para abastecer o Centro-Oeste e o Nordeste do país.

A Operação Curare foi uma iniciativa do Comando do Exército, que conta, além dos policiais federais e agentes do Ibama, com apoio das polícias Rodoviária Federal e Militar. A 17ª Brigada de Infantaria de Selva, que coordena os trabalhos, concentrou as tropas entre as cidades de Capixaba, Brasileia, Xapuri e Epitaciolândia — na fronteira com a Bolívia — e em Santa Rosa do Purus e Assis Brasil, na divisa com o Peru.

"A finalidade da Operação Curare é intensificar a presença do Exército Brasileiro na faixa de fronteira e, para isso, a 17ª Brigada de Infantaria de Selva realiza ações a fim de evitar a ocorrência de delitos transfronteiriços e ambientais", afirma o comando. "Concomitantemente às ações de patrulhamento e fiscalização, estão sendo desenvolvidas ações de caráter cívico-social como atendimento médico e odontológico, regularização da situação do Serviço Militar Obrigatório, palestras com temas de saúde e cidadania, apresentação de banda de música militar, exposição de material militar, entre outras", acrescenta.

Nos últimos meses, a Polícia Federal obteve informações de que a droga, antes cultivada na Colômbia, estava sendo transferida para a fronteira do Peru com o Acre. Além disso, houve um crescimento na produção da droga na Bolívia, principalmente depois de o presidente do país, Evo Morales, ter determinado a saída da Drug Enforcement Administration (DEA) — a agência antinarcóticos dos Estados Unidos — da região. A DEA atuava (1)em conjunto com os Leopardos, grupo de combate ao narcotráfico da polícia boliviana.

Segundo levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), em um ano, os plantios de coca cresceram em torno de 16% na Bolívia, em relação a 2008. O mesmo acontece no caso do Peru.

Em contrapartida, a Colômbia registrou uma diminuição em relação aos demais países, principalmente por causa da atuação dos americanos, que instalaram o Plano Colômbia, em 2000, e elevaram os investimentos no combate ao narcotráfico.

O governo está preparando um plano de ação mais profundo entre as Forças Armadas e Polícia Federal, mas não revela detalhes. "O trabalho conjunto com o Exército é frequente na Amazônia", afirma o delegado Luiz Cravo Dórea, coordenador-geral de repressão a entorpecentes da Polícia Federal.

Segundo Dórea, além da atuação direta, a força apoia a PF em questão logísticas, como deslocamentos de efetivos.

Além da rota terrestre, um levantamento da PF mostrou, ainda, que o tráfico feito por via aérea cresceu. Somente no primeiro semestre deste ano, aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) ameaçaram quatro pequenas aeronaves com tiros de advertência. Todas elas estavam transportando cocaína.

Porém, em apenas um caso, o piloto foi preso pela Polícia Federal. A droga, segundo delegados que atuam na área, vem da Bolívia e com qualidade superior à traficada do Peru. Com isso, os investigadores acreditam que cartéis colombianos estão agindo também em território boliviano.

1 - Trabalho interrompido

Em dezembro do ano passado, Evo Morales determinou a saída da DEA do território boliviano, alegando que a agência estava interferindo em assuntos externos do país. Porém, a relação entre os governos local e dos Estados Unidos foi um dos principais motivos pela suspensão dos trabalhos dos agentes americanos. Pouco antes da retirada do efetivo, Morales expulsou um cônsul dos EUA, agravando a crise entre as nações. A DEA trabalhava na erradicação da coca, tendo investido desde 1980, quando chegou à região, cerca de US$ 35 milhões anuais no país.

O NÚMERO

16%


Crescimento da produção de cocaína na Bolívia, segundo a ONU, contrasta com a redução em países como a Colômbia

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