Usando engenharia reversa, Irã lança versões atualizadas dos caças F-14 Tomcat e F-20 Tigershark

O sonho de milhões de fanáticos de aviação será atendido. O Irã somou sua criatividade para contornar embargos e colocou em produção, em segredo, dois clássicos inesquecíveis: uma versão do Northrop F-20 Tigershark ao lado de uma versão ultra-atualizada do Grumman F-14 Tomcat. O Azarakhsh 1000 e o Manul 2000 entraram em fabricação e complementarão a frota de Sukhoi Su-30 e Su-35 adquiridos junto à United Aircraft Company, da Rússia


Por Aleksandr Antonov e Piotr Gogol | Forças de Defesa

Teerã - Estamos dentro de uma montanha na mais secreta unidade da Iran Aircraft Manufacturing Industrial Company (IAMI/HESA). Para chegar lá, assinamos ainda na capital Teerã um termo de confidencialidade que nos impede de citar o nome e o local da instalação para onde fomos levados. A engenheira Fairuza Farahani, encarregada dos dois programas, comentou:

— Infelizmente, temos muita gente que nos classifica como inimigos interessada nas nossas fábricas.

F-20NG e F-14NG da IRIAF – Arte: Antonis (rOEN911) Karidis – neoras753@gmail.com

Em seguida, falou dos dois programas:

— Externamente, os dois caças são extremamente parecidos com seus parentes norte-americanos, mas a semelhança para por aí. Operamos os F-5E/F Tiger II e os F-14 Tomcat há mais de 40 anos. É tempo suficiente para avaliar os pontos fortes e fracos dos dois projetos. Em primeiro lugar, incorporamos uma grande quantidade de material composto, principalmente fibra de carbono, o que resultou em uma enorme economia de peso, e adicionamos controles eletrônicos para ampliar a capacidade de manobra dos dois caças, que agora contam com Fly by Wire (FBW) e Flight Control System (FCS). Também aumentamos a proporção da estrutura em titânio. A resistência das células ultrapassa 9G e pode atingir 12G.

O projeto que demandou mais esforço da equipe comandada por Fairuza foi o Azarakhsh 1000. De acordo com a engenheira, o projeto partiu da ideia de juntar um motor russo Klimov RD-93 à célula do F-5E.

— Sem falsa modéstia, somos, junto com os brasileiros, os maiores conhecedores da estrutura do F-5E, graças ao trabalho na versão HESA Saeqeh e a modernização Kowsar. Sabíamos do grande desempenho do Northrop F-20 Tigershark, equipado com o motor General Electric F404, e tivemos acesso ao projeto do avião via Inteligência. A turbina russa, desde o início, parecia ser a escolha mais adequada, apesar de ser um pouco maior e mais potente. Aliás, eu nunca entendi porque os engenheiros da FAB e da EMBRAER não partiram para uma solução semelhante com motores ocidentais.

Comparada à F404, a RD93 é 20 quilos mais pesada, tem 30 centímetros a mais de comprimento e 20 centímetros a mais de diâmetro. Em compensação, gera, praticamente, 1 mil quilos a mais de empuxo (9.300 kpf contra 8.030 kpf em pós-combustão).

— Tivemos de ampliar um pouco a parte dianteira da célula (cerca de 20 centímetros) para restabelecer o centro de gravidade, mas a maior contribuição para a estabilidade veio do FBW, desenvolvido com apoio da RAC-MiG — contou Faharani. — Adotamos um canhão de 23 mm de projeto russo que colocamos no ventre do caça em uma instalação que também serve como pilone, a exemplo do que era usado na versão JA-37 do Viggen.

O radar escolhido para o Azarakhsh 1000 é o Nanjing Research Institute of Electronics Technology (NRIET) KLJ 7A, o mesmo selecionado pelo Paquistão para o CAC/PAC JF-17 Block III, um AESA capaz de identificar 40 alvos a 180 km. O piloto está equipado com um Helmet Mounted Display e o cockpit possui dois displays. A HESA nacionalizará a aviônica. O avião está integrado a mísseis R-73, R-77 e uma ampla gama de armas guiadas para ataque terrestre, inclusive um Hellfire nacionalizado.

Tomcat NG


Ao lado do Azarakhsh 1000, o Manul 2000 se impunha pelo tamanho. Na fábrica, um Grumman F-14A Tomcat passava por uma atualização, o que permitiu comparar o avião original com a nova versão desenvolvida pelo Irã. O acabamento em fibra de carbono e outros compostos deixou a superfície da fuselagem e das asas mais lisa, o que deve favorecer o fluxo aerodinâmico. Em lugar dos anêmicos e problemáticos motores Pratt & Whitney TF-30, o novo caça dispõe de dois Saturn AL-41F que são mais leves (1.604 contra 1.808 quilos), mais potentes (14.500 contra 11.900 quilos de empuxo) e menores (4,94 contra 6,14 metros de comprimento).

— Com o excesso de potência, precisamos converter parte da célula, que era em alumínio e aço, para titânio — contou Fairuza. — A mudança de motores, o uso de compostos e a nova estrutura resultou em uma economia de quase 1.000 quilos no peso da aeronave. A velocidade saltou de 2.4 para 2.7 mach e obtivemos ganhos expressivos em capacidade de subida e raio de curva. Em combate com o F-14 Tomcat, o Manul 2000 se sobressaiu em todas as arenas de combate.

Como citamos acima, outro aperfeiçoamento importante foi a substituição dos sistemas de controle tradicionais para um novo FCS e FBW totalmente digital projetado pela RAC-MiG. A resistência das células ultrapassa 9G e pode atingir 12G.

— Tom Cruise deveria conhecer o Manul 2000 — brincou Faharani. — Com o nosso avião ele talvez tivesse alguma chance contra um Sukhoi 57.

Radar AESA


Os iranianos deram um sopro de vida ao radar AN/APG-71. Uma antena AESA móvel, com um ângulo de varredura de 250°, e componentes digitais ampliaram o alcance do sistema para 250 km. O novo equipamento batizado de CIRO e é capaz de orientar mísseis Fakour 90 (cópia do Phoenix), R-37 e R-74 (russos). A tripulação agora dispõe de HMD e um painel com dois displays. Para completar o pacote, um IRST com 50 km de alcance.

O Fakour incorpora 40 anos de avanços tecnológicos. A eletrônica é atual e a antena de guiagem ativa emprega um radar AESA.

— É uma excelente alternativa aos modelos ocidentais, chineses e russos — contou Fairuza. — Ele é compatível com todos os sistemas de lançamento e o processo de integração é bastante amigável.

Fairuza


A engenheira encarregada dos dois programas mais secretos da Força Aérea Iraniana se formou em Ciências Aeronáuticas pelo Instituto de Aviação de Moscou. Tem 45 anos e especialização em nível de mestrado e doutorado no Instituto Central de Aerohidrodinâmica (TsAGI) da Rússia. Ela é zoroastriana. Apesar de jovem, foi convidada para representar seu grupo religioso na Assembleia Consultiva Islâmica nas eleições de 1º de abril de 2022. A Constituição da República Islâmica exige que os povos do livro — cristãos, judeus e zoroastrianos — participem dos trabalhos legislativos.

Engenheira Fairuza Farahani

— Declinei da oferta — contou Fairuza — minha paixão são os aviões e não a política.

Como última provocação, ela disse que Manul é uma espécie de gato selvagem que dificilmente pode ser domesticado.

— Tomcat é qualquer gato doméstico, vive nas ruas ou em casa. O Manul é indomável e representa o espírito persa. Temos mais de 4 mil anos de civilização e uma história rica. Pretendemos exportar o Azarakhsh 1000 e já temos clientes em perspectiva. No momento, dispomos de um grupo de caça equipado com ele e um esquadrão de Manul 2000. Pretendemos também dar um novo sopro de vida aos F-14. Vamos equipá-los com o CIRO, nova aviônica e o IRST. No futuro, vamos nacionalizar os motores RD93 e o AL-41. Prezamos nossa independência.

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